Um diálogo que rolou em um dos redutos tricolores nas imediações da Arena Maracanã, enquanto eu e um amigo bebíamos um chope, me pareceu bastante significativo após a derrota do Vasco no clássico contra o Flu.
Como eu estava com a armadura cruzmaltina, o tricolor deu uma zoada e eu perguntei se a vitória tinha dado o Estadual pro Flu:
– Não, não deu – ele respondeu
– Então segura que a gente se encontra nos jogos decisivos.
– Ah, nas semifinais a gente vence vocês de novo!
– Não….A gente se encontra na final. Vocês eliminam o Fla e a gente elimina o Botafogo.
Aí o cara respondeu, rindo: “Não cara…a final tem que ser com o Fla. Final com vocês é melhor não arriscar!“, e saiu rindo, antes de eu dar uma zoada sobre o tempo que os caras não nos vencem em uma final.
Natural a alegria tricolor por nos vencer. Por mais que não admitam, não há um adepto do laranjal que não tenha pesadelos com uma cruz de malta há décadas. E nem mesmo o 2 a 0 de ontem seria o bastante para fazê-los esquecer disso.
Porque, imaginem…Um elenco montado e estruturado, com um dos treinadores mais badalados da atualidade, que fez um ótimo Brasileirão no ano passado encara um Vasco se reconstruindo, jogando com um time misto e, para vencer, precisou de um bom punhado de sorte (tanto que, se não fossem os dois gols do Cano, o Fábio teria sido o melhor jogador do Flu disparado).
Que tricolor não ficaria bolado de nos encarar numa final depois do jogo de ontem?
O fato é que o Vasco foi superior na maior parte do jogo. Mesmo sofrendo os dois gols, Léo Jardim não fez sequer uma defesa na partida. Conseguimos fazer um jogo controlado, criamos mais chances e, na disposição, demos um banho. O que foi importante, já que a partida foi muito mais física que técnica.
A diferença ontem foi o acaso. E, impossível não admitir, o talento argentino em finalizações. O placar, nem de longe, mostrou o que foi visto em campo, mesmo que o favoritismo, ainda que leve, estivesse do lado tricolete. Mas, claro, não há porque reclamar da derrota: o futebol é assim e clássicos são mais assim ainda.
Agora, o clássico de quinta contra o alvinegro se tornou ainda mais crucial: se hoje já dependemos de tropeços do Volta Redonda, uma nova derrota no próximo clássico pode deixar nossa classificação ainda mais complicada. E ainda teremos mais um clássico pela frente.
As atuações
Léo Jardim – praticamente não trabalhou. E, apesar de ter recebido críticas pelo seu posicionamento no lance do segundo gol, é preciso dar o desconto ao fato de ter sido uma finalização inesperada e de primeira.
Puma Rodríguez – sua boa atuação ficou comprometida pelo lance do primeiro gol, no qual ficou olhando a jogada se desenrolar enquanto deixou o Cano livre de marcação.
Miranda – fez uma partida segura, sem erros e sem tentar tantos lançamentos inúteis pro ataque.
Léo – também se saiu bem na maioria dos confrontos com os atacantes tricolores.
Lucas Piton – ajudou no apoio, mas a jogada do primeiro gol saiu pelo seu lado de campo, quando não conseguiu evitar o cruzamento para nossa área.
Rodrigo – outro que vinha fazendo uma partida correta, mas que ficou completamente comprometida ao errar um passe e fazer uma verdadeira “assistência” pro Cano no lance do segundo gol.
Barros – estrear como titular, em cima da hora, em um clássico não é fácil. Mostrou disposição, mas não muito mais que isso. Orellano entrou em seu lugar quando o Vasco precisava buscar o empate e não conseguiu ajudar nisso.
Galarza – tirando um bom passe para finalização de Alex Teixeira, pouco fez. Talvez Barbieri tenha superestimado a capacidade de criação do rapaz. De Lucca entrou antes do placar ser aberto e focou na marcação.
Alex Teixeira – mesmo não conseguindo fazer a diferença, é inegável que consegue entregar mais em dinâmica e intensidade que o Nenê. Fez algumas boas jogadas e finalizou duas vezes. Deu lugar ao Erick Marcus, que não conseguiu ser efetivo.
Gabriel Pec – bem marcado em todo jogo, ainda conseguiu dar trabalho para a zaga tricolor. Só não marcou mais um gol – e seria um golaço – por conta de uma defesa espetacular do Fábio. Nenê entrou em seu lugar e fez um bom cruzamento para o Eguinaldo e teve uma boa chance, em chute que obrigou o Fábio a fazer outra grande defesa.
Pedro Raul – tentou jogadas de pivô, mas segue sendo menos acionado do que deveria (o que era de se esperar com a formação do time ontem). Ainda assim teve duas grandes chances em cabeceios: uma, só não entrou por outra grande defesa do Fábio; a segunda, passou triscando a trave. Sacado para a entrada do Eguinaldo – segundo o Barbieri, para dar maior intensidade ao ataque – o garoto quase marcou de cabeça, após cruzamento do Nenê.