Não gosto da expressão “perdeu quando podia” porque, pra mim, meu time não pode perder nunca. Como isso é praticamente uma impossibilidade – inclusive para time bem melhores que o Vasco – o que podemos dizer sobre o fim da invencibilidade vascaína diante do Novorizontino (por 2 a 0) é que, já que era inevitável, tá aí. Perdemos a primeira.
E, na boa? O Vasco estava pedindo essa derrota faz é tempo. Desde da época do Zé Ricardo, o time vem tendo atuações entre o medíocre e o ruim e flertava com um resultado como o de ontem. E nem é questão de tirar o mérito do adversário (que ontem simplesmente foi melhor durante os 90 minutos). A diferença pra ontem é que, dessa vez, nem teve lampejo do Nenê, nem nossa defesa segurou a onda pra manter pelo menos o empate.
O que realmente incomoda na derrota é o momento pouco oportuno. Não pela classificação, já que mesmo perdendo e com todos os concorrentes diretos ganhando, o Vasco segue na vice-liderança. O problema é perder justo quando o Maurício Souza fez alterações no time.
O técnico vascaíno fez apenas duas mexidas no time, e as duas, eram pedidos antigos da torcida: colocar o Figueiredo no comando do ataque, sua posição de origem, e encontrar um lugar para o Palacios no time titular. Maurício fez isso, deu tudo errado e pronto. A torcida chama o cara de burro por ter feito exatamente o que os próprios torcedores queriam.
Mas dá pra isentar o treinador o treinador pelo resultado? Não, não dá. A escalação do Anderson Conceição com uma chaga praticamente aberta na cabeça foi uma tremenda irresponsabilidade. Sem segurança para cabecear por causa dos pontos na testa, o zagueiro falhou em vários dos cruzamentos que a equipe paulista fez à nossa área. Outro equívoco foi colocar o Palacios avançado, jogando como ponta. Já não tinha dado certo contra o Brusque, e continuou não dando certo ontem.
O problema de perdermos a invencibilidade justo agora é ter, já no domingo, uma partida bem mais importante e ter a certeza que os quase 70 mil vascaínos que estarão no estádio vão pegar no pé do técnico. Se isso não influenciar no apoio da torcida ao time, tudo bem. Mas é pedir demais que a torcida tenha paciência com certas figuras depois de ontem. Mesmo que a campanha do time seja muito boa, apesar das atuações normalmente fracas.
O que recomendo a todos que forem ver o jogo contra o Sport é o seguinte: lembrem-se do Vasco de 2021 e imaginem onde estaríamos com o time do ano passado. A partida de ontem nos lembrou essa equipe, mas atual não merece, nem de perto, o mesmo tratamento que aquela merecia.
As atuações
Thiago Rodrigues, – mesmo sendo vazado duas vezes, foi o melhor do time na terrível noite de ontem. Evitou pelou menos dois outros gols do Novorizontino.
Weverton – nada justifica a permanência desse rapaz como titular do Vasco. Nem como primeiro reserva. Nem como segundo, aliás. Errou tudo o que tinha que errar ontem e os dois gols começaram pelo seu lado do campo. Foi uma atuação tão tenebrosa que, mesmo sem ter outro lateral direito de origem no banco, foi substituído pelo zagueiro Danilo Boza, que se não melhorou muita coisa no setor, pelo menos não tomamos mais gols.
Quintero – ontem teve dois vacilos graves: deixou a bola passar e ficou olhando o jogador adversário completar para as redes no primeiro e cortou mal que originou o lance da expulsão do Anderson Conceição.
Anderson Conceição – não é coincidência o capitão do time ter falhado mais de uma vez em um dos seus pontos fortes, que é a bola aérea: com seis pontos na testa, mostrou insegurança para as disputas de bolas no alto. Ainda foi expulso no fim do jogo, para evitar o que poderia ser o terceiro gol dos donos da casa.
Edimar – no segundo gol, deu toda liberdade do mundo para o atacante receber a bola e chutar para o gol.
Yuri Lara – a combatividade de sempre, mas errou passes demais. Deu lugar ao Juninho, que até ajudou mais o time na transição para o ataque, mas segue com a mania crônica de prender demais a bola.
Andrey – partida pra colocar entre as “osciladas” normais para jogadores da sua idade. Não comprometeu na marcação, mas não conseguiu dar a dinâmica que costuma dar ao meio de campo. E ainda perdeu um gol feito.
Nenê – muito marcado e caçado em campo, não rendeu. E quando o Vovô não rende, gol não sai. Com um amarelo, acabou dando lugar ao Erick, que até fez algumas jogadas pelo lado de campo e teve uma boa chance (defendida pelo goleiro adversário), mas sem muita efetividade.
Gabriel Pec -dessa vez nem chegou a perder seu gol feito habitual. Mas pelo menos deixou o Andrey na cara do gol com um belo passe após boa jogada individual, infelizmente desperdiçado pelo volante. Raniel o substituiu e não conseguiu fazer nada de útil.
Figueiredo – finalmente jogou como centroavante; infelizmente, no pior jogo possível. Pouco acionado, não conseguiu ter muitas chances (as que teve, finalizou mal). E ainda acabou perdendo a função tática de ajudar na marcação pela lateral, o que fez falta ontem.
Palacios – mais uma vez mostrou que jogar no lado do campo não é a dele. Correndo pelas pontas, não se aproveitou sua habilidade e quando Nenê saiu de campo, o chileno já estava cansado demais para organizar qualquer jogada. Matheus Barbosa entrou no seu lugar após a expulsão do Anderson Conceição quando o técnico vascaíno claramente abriu mão de uma improvável reação e resolveu “perder de pouco“.