Imaturidade não é algo que tenha a ver apenas com a idade. É algo muito mais relacionado à experiência e o tempo necessário para algo que planejamos possa se realizar em sua plenitude. Isso serve tanto para o potencial humano quanto para algum projeto que tenhamos.
A derrota do Vasco ontem tem muito a ver com isso, e podemos ampliar essa análise para além do 3 a 1 na Arena Maracanã, mas para esse início de temporada da equipe. A imaturidade nos prejudicou em vários planos, muito além do que aconteceu no campo.
Claro que a falta de maturação no extracampo também influenciou. Não foi apenas o pênalti infantil cometido pelo Capasso, em um momento no qual pressionávamos o Fla, que decidiu o jogo. O estágio no qual o projeto da SAF vascaína se encontra pode ter sido ainda mais relevante nisso. O exemplo mais óbvio: enquanto do outro lado, saem Arracaeta e Gerson e entram Everton Ribeiro e Vidal, do nosso, saem Pedro Raul e Jair e entram Eguinaldo e Nenê. A disparidade entre um projeto recém-iniciado e uma reconstrução financeira que já tem quase 10 anos é enorme.
Falta maturidade também ao time, de um modo geral. Reformulado completamente, incluindo aí a comissão técnica, seria querer demais que o time do Vasco estivesse pronto em pouco mais de três meses de trabalho. Mesmo que já possamos dizer, com poucas discordâncias, o time titular do Barbieri, é claro que ainda faltam muitos ajustes à equipe. Os erros de passe e de posicionamento não são raros, mas isso tende a diminuir com um tempo de trabalho maior.
E, obviamente, a chegada de reforços. Todos os setores precisam de reforços, senão de titulares, pelo menos para que façam sombra a quem já se considera garantido entre os 11. O Vasco hoje ainda depende demais de garotos da base. E mesmo que alguns já tenham mostrado potencial, ainda oscilarão e podem inclusive por a perder um desenvolvimento adequado por conta da pressão e expectativa criada. E não tenham dúvidas: reforços de peso, que não venham apenas inchar a folha salarial do clube sem retornos técnicos, só chegarão com o tempo.
É querer demais que a torcida seja racional depois de ver o Vasco ser eliminado na Copa do Brasil e perder a vaga no final do Carioca para o maior rival, mesmo jogando por resultados iguais na semifinal. Principalmente depois de ontem, quando conseguimos ser superiores ao rubro-negro em boa parte do jogo (ainda que mais na afobação que na qualidade). Mas até os vascaínos precisam ter mais maturidade para avaliar o momento do time e compreender que ainda estamos em um processo que trará resultados, no mínimo, no médio prazo.
As atuações
Léo Jardim – se falar que o goleiro nada poderia fazer em nenhum dos três gols rubro-negros não é o bastante, citar as duas boas defesas que fez na partida é que não adiantaria para que grande parte da torcida considere sua atuação pelo menos razoável.
Puma Rodríguez – foi presença constante no apoio, mas perdeu duas bolas que originaram contra-ataques perigosos ao adversário, uma em cada tempo. Na da etapa inicial, saiu o primeiro gol deles.
Capasso – vinha se redimindo do gol entregue no primeiro jogo, depois de marcar, de cabeça, o gol vascaíno. Mas voltou a comprometer todo o trabalho dando um carrinho infantil, cometendo um pênalti desnecessário quando o time pressionava pela virada.
Léo – fez uma partida segura, inclusive ajudando na saída de bola.
Lucas Piton – fez uma boa partida, sendo uma das melhores opções ofensivas da equipe. Cobrou o escanteio que originou o gol do Capasso. Cobrou uma falta com perigo no segundo tempo.
Rodrigo – vinha, mais uma vez, fazendo um bom trabalho anulando Arrascaeta e, mesmo não tendo o mesmo desempenho do jogo pela Taça Guanabara, venceu a maioria dos combates com o meia. Mas cansou e acabou perdendo a bola que terminou no segundo gol rubro-negro. Nenê o substituiu, no que prova a falta de opções que Barbieri tem no banco. Não conseguiu fazer nada naquela que pode ter sido sua última partida como profissional (pelo Vasco, pelo menos).
Andrey Santos – meio perdido na etapa inicial, cresceu no segundo tempo, sendo importante nas roubadas de bola e criação de jogadas. Mas desperdiçou algumas boas chances, faltando precisão nas finalizações.
Jair – não conseguiu mostrar efetividade na articulação quando mais precisamos. Antes de ser substituído, mostrou fadiga e lentidão. Barros entrou em seu lugar e se não comprometeu, igualmente não chegou a ser relevante.
Gabriel Pec – cumpriu a função tática de ajudar na defesa, mas foi pouco efetivo no ataque. Também desperdiçou algumas chances até dar lugar ao Erick Marcus o substituiu e não conseguiu fazer nada muito diferente, com o time já partindo sem muita organização para o ataque.
Alex Teixeira – tentou construir jogadas, mas não conseguiu superar a marcação rubro-negra na maioria das vezes. Quando foi deslocado para o comando de ataque, foi mal nas chances que teve de finalizar. Orellano entrou em seu lugar e segue não justificando o investimento feito em sua contratação. Precisa jogar mais para mostrar o que pode.
Pedro Raul – chutou uma vez com perigo no primeiro tempo e sofreu com a marcação adversária. Mas pelo menos deu trabalho à zaga rubro-negra, algo que o Eguinaldo, que entrou em seu lugar, não conseguiu. Fez muito pouca coisa de útil e perdeu uma chance clara, cabeceando sozinho pra fora.