Fosse em outros tempos até recentes, a partida entre o Vasco e o América-MG teria um desfecho bem diferente. Se o confronto não tivesse sido adiado, por exemplo: a partida teria acontecido entre duas derrotas em casa (para o Cruzeiro e o Furacão), William Batista ainda seria o técnico e o único reforço da janela do meio do ano em condições de jogo era Serginho.
Mas, pior que isso tudo era que NADA dava certo para o Vasco.
Se a partida de ontem tivesse acontecido na 15ª rodada, alguém acha que o Vasco resistiria à pressão imposta pelo Coelho no primeiro tempo? Ou que Léo Jardim faria os milagres que fez ontem? Ou que não sofreríamos um gol no fim do primeiro tempo? Que o VAR – quem diria, o VAR! – chamaria o árbitro para rever um lance ao nosso favor?
Ou ainda: alguém acha que a bola espírita que o Jair, vindo do banco, não só iria em direção ao gol como estufaria as redes, já nos acréscimos, garantindo nossa vitória por 1 a 0?
Se por conta da nossa posição na tabela obviamente não podemos falar em “sorte de campeão“, podemos dizer pelo menos que a uruca que o Vasco vinha carregando há séculos, parece ter ido embora. Antes, o time perdia mesmo que tivesse sido melhor que o adversário; ontem, mesmo com a atuação bem ruim que tivemos no primeiro tempo e sem conseguir transformar a vantagem numérica em gols ao longo de quase toda a etapa final, conseguimos vencer.
Nem sempre vamos jogar bem e golear, como qualquer time. Em um campeonato de pontos corridos, o que importa é mostrar a competitividade necessária para vencer mesmo nos dias ruins, nos quais quase nada da certo. A vitória de ontem, que finalmente nos tirou do Z4 – esperamos que em definitivo – mostrou que o Vasco do Don Ramón está neste patamar.
As atuações
Léo Jardim – se o Jair se tornou o herói da noite, o goleiro vascaíno foi o salvador: não tivesse feito pelo menos três grandes defesas (uma delas, um verdadeiro milagre), voltaríamos de BH ainda no Z4.
Puma Rodríguez – vinha recuperando a moral com a torcida, mas sua atuação foi um retrocesso. Errou um monte de passes e não conseguiu ser efetivo no apoio. Marlon Gomes o substituiu quando a prioridade do time era pressionar e deu trabalho à zaga americana.
Medel – com o meio de campo desacertado, a zaga ficou sobrecarregada. Com isso, o xerife chileno teve muito trabalho para segurar a pressão do adversário no primeiro tempo. Na etapa final o jogo mudou e o lado volante pôde aparecer e Medel passou a ajudar iniciar as jogadas ofensivas.
Léo – passou pelos mesmos problemas do seu companheiro de zaga e igualmente passou o segundo sendo mais visto iniciando jogadas que tendo trabalho na defesa.
Lucas Piton – não esteve em um dia de cruzamentos calibrados, mas acertou algumas bolas e foi boa opção ofensiva. Finalizou uma vez com perigo.
Zé Gabriel – parece que o excesso de elogios ao seu “renascimento” lhe fez mal. Ontem, errou um monte de passes e não conseguiu garantir uma proteção à zaga eficiente. Seu melhor momento na partida foi quando deu lugar ao Jair, que compensou, e muito, as várias decisões equivocadas que vinha tomando na partida marcando um golaço salvador.
Paulinho – bem marcado, não conseguiu mostrar a eficiência que lhe rendeu o apelido de Magic Paula. Ainda assim, foi importante no combate (foi quem mais roubou bolas no time) e decisivo ao fazer a assistência para o gol do Jair.
Praxedes – não conseguiu mostrar seu melhor futebol, sendo facilmente anulado pela correria do Coelho. Saiu no intervalo, dando lugar ao Gabriel Pec, que se não marcou o seu gol pelo menos ajudou a time a pressionar o adversário com boas jogadas pelos lados do campo.
Payet – sua falta de ritmo não combinou com a intensidade imposta pelo América. Sumido em campo, deu lugar ao Sebastian no intervalo. O uruguaio foi esforçado como sempre e quase marcou um gol de cabeça.
Rossi – outro que não conseguiu repetir suas últimas atuações, muito por méritos da defesa adversária, armada para anular nossas jogadas pelos lados do campo. Deu lugar ao Serginho no segundo tempo, que renovou o gás do ataque vascaíno, ajudando na nossa pressão, mas acabou evidenciando suas limitações (técnicas e, porque não dizer, intelectuais).
Vegetti – mesmo não sendo o dia do Pirata – perdeu duas chances de cabeça, uma indo pra fora, outra parando na trave – acabou sendo protagonista do lance que mudou o jogo a nosso favor ao tomar uma cotovelada digna de MMA e provocar a expulsão de um zagueiro adversário no final do primeiro tempo.
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As declarações do jogador Juninho, capitão do América-MG, após o apito final da partida já seriam inaceitáveis, já que a expulsão do seu companheiro de equipe aconteceu ainda no primeiro tempo e houve tempo de sobra para que o seu time visse o lance em alguma TV. Mas, vá lá…no calor do momento, com a derrota se confirmando nos acréscimos, até podemos entender as besteiras faladas pelo jogador.
Agora, um dirigente falar em “operação salva Vasco” é uma leviandade que não tem explicação ou desculpa. Primeiro, porque um presidente de clube deveria mostrar alguma compostura. Segundo, porque é simplesmente RIDÍCULO insinuar que o Vasco possa ter sido favorecido em algum momento neste campeonato. A única operação que envolve o Vasco neste Brasileiro, como qualquer pessoa minimamente atenta já sabe, é quando o somos OPERADOS em campo: já fomos prejudicados diversas vezes ao longo da competição. O que, aliás, teria acontecido mais uma vez se o VAR não tivesse indicado a revisão da verdadeira AGRESSÃO da qual Vegetti foi vítima.
Vamos ver se a CBF mostra com o América o mesmo rigor que sempre têm quando é o Vasco o time a ser punido. Se essas acusações absurdas não resultarem em um belo gancho ao jogador e ao dirigente do clube mineiro, o favorecido será o América.