Derrota para o Coxa é uma tromba d’água fria no otimismo vascaíno

A expulsão do Henrique atrapalhou muito o time, mas não justifica a derrota para o Coxa
A expulsão do Henrique atrapalhou muito o time, mas não justifica a derrota para o Coxa (Foto: http://www.coritiba.com.br)

O site do clube ostenta hoje a matéria “Com um a menos desde a primeira etapa Vasco é superado pelo Coritiba”. Como cabe a qualquer site oficial, a manchete ameniza a derrota, como daria cores mas vivas em caso de vitória.

Digo que o título ameniza a derrota porque estar com menos jogadores em campo não foi o que nos fez perder o jogo. Nem mesmo o fato de o gol adversário ter sido em – mais uma – bola defensável justifica o 1 a 0 para o Coritiba.

O Vasco perdeu para o Coxa porque jogou mal, algo que já estava acontecendo antes da expulsão do Henrique ou do Fernando Miguel ter aceitado o chute mais ou menos do volante do Coxa. A verdade é que o time do Pofexô fez um primeiro tempo digno do Sá Pinto. E os 45 minutos finais, quando o Coritiba se agarrou ao placar como um sobrevivente de naufrágio se agarra a um toco flutuante de madeira no oceano, o time não mostrou a capacidade de reação necessária para sequer empatar.

Para não dizerem que estou sendo muito rigoroso, podemos dizer que o time merecia pelo menos o empate, não apenas por ter pressionado o Coritiba – que, lembrando, mais se deixou pressionar que o contrário – e pelas duas chances claras que Cano teve e foram espetacularmente defendidas pelo goleiro Wilson (o melhor jogador do time adversário). Mas isso também é amenizar o resultado. Wilson fez a parte dele com maestria. E se nós não conseguimos nem um empate (que já seria péssimo, mas nos faria subir uma posição na tabela) foi porque não fizemos nossa parte a contento.

A derrota foi uma tromba d’água fria na cabeça da torcida, que depois da goleada no clássico contra o Botafogo, não espera nada além de uma vitória tranquila contra o lanterna da competição, que não tinha uma vitória há DEZ rodadas. Agora, ao invés de terminar a rodada a uma vitória de entrar na zona de classificação para a Sul-Americana, olhando pra cima na tabela, passaremos o domingo no humilhante exercício de secar concorrentes ao Z4. E com chances reais de voltar para lá ainda hoje.

Nossos próximos três jogos – Bragantino fora de casa, Galo na Colina e Palmeiras em SP – prometem nos trazer bem mais complicações que o Coritiba poderia oferecer. É hora do Luxa mostrar que pode corresponder a toda confiança que boa parte da torcida deposita em seu trabalho.

As atuações

Fernando Miguel – o Coxa não exigiu tanto do nosso goleiro. E quando o fez, o Barba aceitou mais um chute defensável, o que nos levou à derrota.

Léo Matos – no apoio, pouco fez; na defesa, cortou bisonhamente a bola no lance que originou o gol adversário. E, claro, levou seu cartãozinho amarelo habitual. Cayo Tenório entrou em seu lugar e teve maior presença ofensiva (muito por conta do Coritiba ter desistido de atacar por praticamente toda segunda etapa).

Werley – não teve participação direta no lance do gol e não chegou a comprometer. Podia pelo menos tentar caprichar um pouco mais nos passes, principalmente quando tenta fazer esticar as bolas ou iniciar as jogadas.

Leandro Castan – quase não teve trabalho e não comprometeu, apesar de um tropeço ou outro.

Henrique – de salvador a vilão em uma cotovelada.

Bruno Gomes – observou de longe a preparação do chute e deu as costas para a bola no lance do gol do Coxa. Mas de um modo geral, não foi mal. Foi correto no combate e na ocupação dos espaços.

Léo Gil – acertou o belo cruzamento para a cabeçada do Cano que só não terminou em gol para o Vasco por um milagre do Wilson. De resto, errou tudo o que tentou. Foi trotando para tentar impedir o chute do volante Hugo Moura e acabou no meio do caminho, não fazendo nada. Demorou, mas Gabriel Pec entrou em seu lugar e, infelizmente, não conseguiu ser muito útil na criação de jogadas.

Juninho – discreto, não chamou a responsabilidade para si em nenhum momento enquanto esteve em campo. Deu lugar ao Caio Lopes ainda no intervalo. E o garoto também apareceu pouco, mas ajudou o time a pressionar o Coritiba no seu campo de defesa.

Yago Pikachu – com a expulsão do Henrique, foi deslocado para a lateral esquerda, um dos erros do Luxa durante a partida: se o Pokémon não tem feito bons jogos na lateral direita, sua posição de origem, na esquerda ele simplesmente desapareceu. O treinador levou incontáveis minutos para perceber isso e colocou o Neto Borges em seu lugar. Que, apesar de ser um lateral esquerdo de ofício, foi tão nulo quanto o Pikachu.

Talles Magno – muito marcado desde o início de jogo, não conseguiu ser tão efetivo (quase marcou em um lance no primeiro tempo, mas o passe para ele não foi bom). Sua saída ainda no intervalo foi outra opção inexplicável do Luxa no jogo, já que o Talles era o único que levou o time ao ataque no primeiro tempo. Martín Benítez o substituiu e mesmo com uma clara falta de ritmo prejudicando seu futebol, deixou mais uma vez claro que, em boas condições, não pode ficar fora do time.

Germán Cano – ainda sem marcar sob o comando do pofexô, completou a quinta partida sem marcar, dessa vez, por méritos do goleiro Wilson, que impediu o gol do gringo duas vezes com defesas incríveis.

Pênaltis e VAR decidem e Vasco perde para o Coxa

Fernando Miguel em ação: nem defesa de pênalti evitou a derrota vascaína em Curitiba
Fernando Miguel em ação: nem defesa de pênalti evitou a derrota vascaína em Curitiba (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)

Há derrotas e derrotas. A que o Vasco sofreu ontem, no 1 a 0 para o Coritiba, é daquelas que irritam muito. Principalmente porque poderia ter sido evitada.

Na realidade, não há muito o que falar do jogo, bem ruim tecnicamente e com bem poucos lances de emoção. No primeiro tempo, o Coxa dominou mas não agrediu. Não consigo lembrar do Fernando Miguel fazendo nada nos primeiros 45 minutos além de olhar as bolas que os donos da casa isolavam pra bem longe do gol. De perigo mesmo, só uma finalização do – sempre ele – Cano, que obrigou o Wilson – sempre eles, os goleiros adversários que jogam contra o Vasco – a fazer uma boa defesa em chute de fora da área.

O segundo tempo foi um pouco melhor porque o Vasco, mesmo com um time alternativo e sem alternativas criativas em campo, resolveu jogar. Passamos a ter a posse de bola, pressionamos, e criamos chances, algumas bem claras: uma finalização do Cano que obrigou o Wilson a fazer um milagre, um chute do Talles na trave e um gol feito desperdiçado pelo Parade ao chutar em cima do goleiro.

Pela fragilidade do Coxa e pela incapacidade do nosso time reserva converter em gols as poucas jogadas que criou, a partida caminhava para um justo empate. E isso provavelmente aconteceria se Pikachu não resolvesse cometer um penal idiota aos 40 minutos do segundo tempo.

E só mesmo com um pênalti para o fraco time do Coritiba ganhar a partida. E como para o Vasco – que a cada partida na qual precisa poupar jogadores deixa mais evidente sua falta de opções no elenco – não teve penalidade a favor, veio a derrota. Tivéssemos segurado o empate, estaríamos na terceira colocação na tabela, mas sem trazer nem um ponto de Curitiba, terminamos a rodada fora do G4.

Foi apenas a terceira derrota do Vasco no Brasileiro, mas para um time que tem maiores pretensões na competição, vencer o Coxa fora de casa é um daqueles resultados que não se pode deixar de conseguir (o mesmo pode se dizer de vencer o Atlético-GO em casa). Não conseguir nem um empate no Couto Pereira significa que é preciso rever um desses pontos: a estratégia para poupar jogadores ou os objetivos da equipe dentro a competição.

As atuações…

Fernando Miguel – fez o que pôde para o Vasco não sair derrotado – até pênalti pegou – mas nem o time, nem a arbitragem, ajudaram.

Yago Pikachu – mesmo que tivesse feito algo de muito útil na partida, teria jogado tudo pelo ralo pelo lance de pênalti desnecessário que provocou a derrota do time.

Miranda – fez uma partida segura, sem ter tido muitos problemas para superar os atacantes adversários.

Marcelo Alves – também não comprometeu, tendo um desempenho satisfatório até nas bolas alçadas à área.

Neto Borges – boa parte da torcida parece querer vê-lo como titular, mas pela partida de ontem, sinceramente, não vejo razão (mesmo que eu nem de longe seja fã do Henrique). A maior participação no apoio do Neto não compensa o que o time perde na parte defensiva.

Bruno Gomes – errou bastante ontem, a ponto de perder muitos pontos que tinha com a torcida. Mas não se pode esquecer que, para um volante, os erros chamam infinitas vezes mais atenção que os acertos: perder uma bola que gera um contra-ataque ou errar um passe na saída de bola causa um efeito bem maior que ocupar bem os espaços sem a bola. A entrada do Fellipe Bastos em seu lugar ajuda a explicar: mesmo indo mal, bastou que Bruno saísse para que o Vasco ficasse mais exposto aos contra-ataques.

Marcos Júnior – um dos melhores do time ontem. Isso mostra que o nível de atuação do time não foi dos melhores, mas também mostra que o volante tem tido um progresso, conseguindo pelo menos ter atuações mais convincentes.

Bruno César – fez uma boa jogada que quase terminou em gol do Cano, no segundo tempo. No restante do tempo em que esteve em campo, errou um monte de cruzamentos e mais nada. Ribamar entrou em seu lugar e fez ainda menos.

Talles Magno – tentou criar pelos lados do campo, colocou o Parede na cara do gol e acertou a trave com um bonito chute de fora da área e até ajudou na marcação. Mas ainda está longe de ser o Talles que encantou a torcida. Lucas Santos entrou em seu lugar nos minutos finais e não teve tempo para fazer muita coisa.

Ygor Catatau – foi muito criticado no “tribunal do Twitter”, mas ontem me pareceu acima da média do time. Buscou usar da velocidade para levar o time ao ataque pela direita. Pecou no último passe e nas finalizações. Guilherme Parede entrou em seu lugar e manteve a movimentação pelo lado direito, mas perdeu o gol mais feito do Vasco na partida.

Cano – uma finalização no primeiro tempo, outra mais perigosa no segundo, e nada de gols.

***

Não dá pra fechar o post da partida de ontem sem falar sobre os critérios das arbitragens e o uso do VAR. Por pontos:

1) Pikachu cometeu a penalidade. Mas foi o tipo de lance que, fosse fora de área, poucos juízes marcariam. Usou-se o VAR e a infração foi marcada.

2) Na cobrança, o zagueiro Sabino faz sua cobrança com paradinha. Quando o jogador ameaça cobrar, naturalmente, Fernando Miguel saiu da sua posição e fez a defesa quando a bola finalmente foi chutada. O VAR mandou a cobrança ser refeita e aí, com o atacante Robson cobrando, sem paradinhas, o Coritiba marcou seu gol.

3) Depois do pênalti do Pikachu, a intervenção do VAR, a primeira cobrança, a nova intervenção do VAR, a segunda cobrança e a comemoração dos jogadores do Coxa, o jogo prosseguiu e Neto Borges sofre um pisão dentro da área. O Sr. Luiz Flavio de Oliveira não marcou. O VAR indicou que o árbitro revisse o lance. Isso foi feito, mas o juiz manteve sua primeira decisão e não confirmou o pênalti.

Os dois lances de falta dentro da área foram discretos, tanto que a arbitragem precisou usar o VAR para decidir sobre ambos. E após rever o vídeo, o juiz achou por bem apontar apenas o que foi contra o Vasco, ainda que o pisão no Neto Borges tenha sido claro.

Sobre o retorno da primeira cobrança do Coritiba, fica a lição deixada pelo Sabino a todos os jogadores: cobrem pênaltis sempre com a paradinha. Se a bola for pro gol, ótimo; se não for, o goleiro certamente irá se movimentar com a paradinha e o VAR mandará a cobrança voltar.

Resumindo a história, segue a regra: para os adversários tudo; para o Vasco, os rigores das regras.