De novo nos penais, Vasco avança na Copa do Brasil

Voa, Leo Jardim: depois de falhas ao longo do jogo, goleiro vascaíno defende cobrança na disputa de penais e garante a classificação
Voa, Leo Jardim: depois de falhas ao longo do jogo, goleiro vascaíno defende cobrança na disputa de penais e garante a classificação (📸: Leandro Amorim | Vasco)

NENHUM vascaíno – ou pelo menos nenhum vascaíno realista – acreditou que a classificação para as oitavas de final da Copa do Brasil contra o Fortaleza seria fácil, mesmo depois de termos conseguido segurar o empate no jogo de ida e podermos decidir a vaga na Colina.

A classificação veio e, surpreendendo um total de zero torcedores (realistas), foi com um sacrifício tremendo, depois de um 3 a 3 decepcionante com o time cearense e uma disputa de penais que só se resolveu na última cobrança, defendida pelo Leo Jardim.

Mas se foi um perrengue passar pelo modesto Água Santa na segunda fase, porque haveríamos de esperar algo diferente contra o Fortaleza, um adversário obviamente mais forte, melhor treinado e com um trabalho consolidado há anos? Mesmo com desfalques, o tricolor cearense foi melhor na maior parte do tempo, pressionando nossa saída de bola e encontrando muita facilidade para construir as jogadas já na nossa intermediária. Com uma marcação forte, o Leão anulou com facilidade o Francês e, consequentemente, nossa capacidade criativa no meio de campo. Ir para o intervalo com um empate foi lucro para o time do ex-interino Rafael Paiva, que encontrou um penal salvador pouco depois de ver o adversário abrir o placar (a bem da verdade, muito mais por conta das nossas falhas que pelos seus méritos).

No segundo tempo as coisas melhoraram um pouco, estranhamente depois do Fortaleza abrir nova vantagem (de uma maneira que só aconteceria com o Vasco, com um gol “desinvalidado“). O somatório de um certo relaxamento do tricolor após o gol e do seu cansaço fizeram com que cedessem mais espaços e o Payet pudesse participar mais da partida. Em 20 minutos, o Francês participou de duas jogadas que nos fizeram virar o jogo, com Vegetti – marcando pela segunda vez – e Piton balançando as redes.

Mas a alegria durou pouco: cinco minutos depois, depois do nosso meio de campo mais uma vez dar um espaço tremendo, o Fortaleza empatou o jogo com um chute de longe, que Leo Jardim aceitou. Para compensar, o próprio fez uma boa defesa no fim, garantindo o empate e levando a decisão para a disputa de pênaltis. E no momento “loteria” do jogo, o Vasco foi melhor, convertendo as cinco cobranças e levando a vaga com nosso goleiro defendendo a última cobrança.

A classificação suada serviu para amenizar o clima em São Januário, conturbado não apenas pelo desempenho do time, mas por toda confusão envolvendo a gestão do associativo, a 777 e a SAF.  Álvaro Pacheco, apresentado ontem, assumirá a equipe com uma pressão a menos e – pelo menos por enquanto – contando com o apoio incondicional da torcida. Mas a vida do técnico Pink Blinder não será um mar de rosas, algo que ele já deve ter percebido, já que assistiu o jogo no estádio: o portuga da boina certamente sabe que terá um longo trabalho para acertar o time.

As atuações

Leo Jardim – foi de vilão – falhou no primeiro gol e tomou o terceiro em uma bola defensável – a herói ao fazer uma defesa decisiva quando o jogo já estava empatado e defendendo a última cobrança de pênalti do Fortaleza.

João Victor – como não poderia deixar de ser, falta-lhe o cacoete no apoio. Vinha fazendo uma partida apenas correta defensivamente, mas foi sacado em um momento mais agudo do jogo por já ter um amarelo. Puma Rodiguez entrou em seu lugar e acabou sendo decisivo: acertou a assistência para o segundo gol do Vasco (vindo pela esquerda) e converteu sua cobrança de pênalti com categoria.

Maicon – até foi importante cortando bolas alçadas à nossa área, mas vacilou em momentos capitais. Muito nervoso com a marcação alta do Fortaleza, iniciou a jogada do primeiro gol deles ao dar um passe mais que quadrado para o João Vitor (que, em outra saída de bola equivocada do zagueiro, fez falta que o deixou pendurado). No lance do segundo gol do adversário, foi facilmente driblado com uma caneta constrangedora.

Leo – penou no primeiro tempo com a facilidade que o adversário teve para chegar à nossa área, mas não chegou a comprometer.

Lucas Piton – mesmo não sendo tão presente no apoio como de costume, também foi decisivo na classificação: o penal a nosso favor surgiu em lance no qual o lateral disputaria a bola, marcou o terceiro gol do Vasco e converteu sua cobrança.

Sforza – mesmo sem ter ao seu lado quem o ajude a carregar o piano do combate pelo meio, se destacou pela consciência da sua atuação. Não deu a menor chance de defesa na sua cobrança de pênalti.

Galdames – mesmo que não tenha cometido falhas imperdoáveis, não dá pra sumir como fez em uma partida decisiva. Faltou chamar a responsa. Matheus Carvalho entrou em seu lugar para aumentar a pegada no setor e conseguiu.

Payet – no primeiro tempo, sofreu com a forte marcação adversária. Ainda assim, foi quem lançou a bola que ocasionou o pênalti do Marinho. No segundo tempo, com mais espaço, participou dos outros dois gols vascaínos. Abriu a série de penais convertendo o seu.

Adson – perdeu uma chance clara no primeiro tempo, mas provou com sobras que não pode bancar para o Rossi. Deu trabalho à zaga adversária, ajudou na recomposição e puxou o contra-ataque que terminou com nosso segundo gol. Paulo Henrique entrou em seu lugar para reforçar a marcação na reta final da partida. Nesse tempo, o lateral levou um amarelo e o Vasco, o gol de empate.

David – a intensidade de sempre, mas não conseguiu ser efetivo na mesma medida. A se destacar, o passe para Adson iniciar o contragolpe no segundo gol. Rayan o substituiu e participou da troca de passes que terminou no gol do Piton.

Vegetti – em noite inclemente, o Pirata foi imprescindível para a classificação. Converteu os dois penais – um no primeiro tempo, outro na disputa de pênaltis- que cobrou e marcou o segundo, de cabeça.

Vasco que só soube sofrer arranca empate no Castelão

Destaque do Vasco na partida, Léo Jardim garantiu o empate no Castelão com grandes defesas
Destaque do Vasco na partida, Léo Jardim garantiu o empate no Castelão com grandes defesas (📸: Leandro Amorim | Vasco)

Depois de uma traulitada como a que tomamos na última rodada do Brasileiro, é difícil não ter achado o empate de ontem com o Fortaleza um bom resultado.

Jogando fora de casa, contra um time há muito tempo mais ajustado que o nosso (pra não entrarmos na discussão da qualidade do elenco) e que até técnico tem, sair do Castelão sem perder, sem sofrer gols – algo que não acontece há quase dois meses – e podendo avançar para as oitavas da Copa do Brasil com uma vitória em São Januário no jogo de volta, não dá muito pra reclamar, certo?

Mais ou menos.

O problema é que gostar do resultado não significa que o Vasco tenha nos dado motivos para gostar da partida. Muitas vezes, aliás, é o contrário: quando o time vai mal e, ainda assim, não perdemos, a satisfação com o placar é inversamente proporcional à satisfação com o que vimos em campo.

Foi isso o que aconteceu ontem. Era óbvio que Rafael Paiva tinha como objetivo principal não tomar gols, algo que conseguiu. Mas me parece bastante perigoso dizer que fomos bem defensivamente apenas por não termos sido vazados. E por uma razão simples: em uma equipe com dois volantes, laterais que não avançaram muito e três zagueiros não deveria ter como principal destaque na partida o seu goleiro. A impressão que fica, no fim das contas, é que o ferrolho do Paiva só “funcionou” porque Léo Jardim estava em uma noite inspirada.

Com um time tão defensivo como o que tivemos ontem, a facilidade com a qual o Fortaleza atacava e criava chances de perigo (nem tantas, é verdade) evidenciou que o esquema proposto ainda tem muito o que evoluir. E, outra questão que deve ser resolvida até o jogo da volta, não podemos passar quase o jogo todo pressionados como aconteceu ontem. Ser defensivo é necessário em algumas partidas, mas ser inofensivo não pode acontecer nunca.

O empate foi um bom resultado, ok. Mas “saber sofrer“, ainda mais dependendo tanto de milagres do goleiro, não vai nos fazer avançar na Copa do Brasil. O Vasco também precisa saber vencer.

As atuações
Léo Jardim – indiscutivelmente o melhor em campo, evitou que o Vasco saísse com uma derrota com pelo menos quatro grandes defesas.

Paulo Henrique – tomou um drible humilhante em um lance que só não terminou em gol pela finalização no lance ter carimbado a trave. Está numa fase terrível.

Rojas – surpreendeu fazendo uma partida segura, se saindo bem nos combates diretos. Em um lance, roubou uma bola e armou um bom contra-ataque. Perto do fim, deu lugar ao Zé Gabriel, “curiosamente” no momento em que o Fortaleza levou mais perigo nos minutos finais.

Maicon – também não comprometeu, se destacando nas bolas aéreas e antecipações.

Léo – depois de um primeiro tempo irritante, melhorou. Na etapa final, bloqueou uma finalização perigosa.

Lucas Piton – quando não consegue se destacar no apoio, geralmente evidencia sua irregularidade defensiva. Foi o que aconteceu ontem.

Hugo Moura – marcou com firmeza enquanto esteve em campo e tentou ajudar o time a ter uma saída de bola com mais qualidade. Acabou sendo substitu1ído no intervalo pelo Galdames, após sentir. O chileno até teve uma finalização interessante, mas além disso, só mostrou que muitas vezes considera ter mais qualidade do que consegue praticar com a bola no pé. Em dois momentos armou contragolpes perigosos para o Fortaleza ao errar passes.

Mateus Carvalho – vinha dando consistência à marcação pelo meio, mas pra variar, foi amarelado muito cedo e acabou saindo no intervalo. Sforza o substituiu e, apesar de ser detonado por alguns torcedores nos Twitters da vida, fez uma partida mediana, sem razões para elogios, mas igualmente sem razão para críticas em excesso.

Rayan – tentou ser uma válvula de escape pelo lado de campo, puxando contra-ataques, mas não conseguiu ser efetivo. Adson entrou em seu lugar para exercer a mesma função, mas tirando um arremate relativamente perigoso, não acrescentou tanto.

David – foi quem mais se destacou no ataque, tentando levar o time à frente pelo lado esquerdo do campo. O lance mais bonito do time foi dele: chapelou o marcador e completou com um chute forte de fora da área. Rossi entrou em seu lugar em um momento do jogo no qual acabou sendo mais útil na função de ajudar a cobrir os avanços do Fortaleza pela lateral.

Vegetti – não chegou a receber bolas em boas condições para finalizar, mas incomodou bastante a zaga adversária com seu jogo físico.

Vasco ‘visitante’ busca recuperação contra o Flu na Arena Maracanã

Responsável direto pelo resultado negativo contra o Bragantino, Léo Jardim pode se reabilitar no clássico contra o Laranjal
Responsável direto pelo resultado negativo contra o Bragantino, Léo Jardim pode se reabilitar no clássico contra o Laranjal (📸 Leandro Amorim | Vasco)

Não sei exatamente porque, mas tenho a impressão que, nos últimos anos – sempre que estamos na elite, obviamente – o Vasco é sempre o primeiro a encarar um clássico regional no Brasileirão. O jogo de hoje com o laranjal só reforça isso, ainda que possa ser apenas uma impressão.

O que não é uma impressão é que pegamos uma tabelinha complicada nesse começo de competição. Não sei se algum outro time teve nas três primeiras rodadas apenas adversários classificados pra Libertadores desse ano (o Bragantino já rodou, mas Grêmio e Flu seguem na fase de grupos).

Muitos podem dizer que a ordem dos oponentes não faz diferença, já que temos que encarar todos. Mas na prática não é assim: um começo ruim de Brasileirão e estar nas últimas posições da tabela logo nas primeiras rodadas é ruim por já jogar pressão no time desde o início. E encarar três pedreiras já na largada, com duas delas em sequência jogando como visitante aumenta o risco de resultados ruins.

E até poderíamos não ser os visitantes hoje, se a pinimba dos tricoflores com o Vasco não seguisse inabalável. Mas dessa vez acho que nosso lado também vacilou: não fechar um acordo para meiar a Arena por causa da arenga velha sobre o lado da torcida acabou prejudicando o próprio torcedor, que teve bem menos ingressos ao seu dispor.

Não que eu ache desimportante a questão: o Vasco teria, por direito conquistado, que destinar o lado que quisesse no Maracanã e é uma injustiça histórica uma concessão cheia de maracutaias impedir isso. Mas, depois de anos nesse lenga-lenga, todos já deveríamos ter entendido que esse estádio da Radial Oeste pode até ainda se chamar Mário Filho, mas faz um tempo que não é mais o MARACANÃ.

(parênteses: os mais observadores já devem ter percebido que não chamo o estádio dessa forma há anos. O que hoje é Arena jamais será o Maraca. Fecha parênteses)

Mas mesmo tendo apenas 4 mil vascaínos nas arquibancadas, temos que encarar os “locatários da casa“. E o Flu entra em campo mais pressionado, já que ainda não venceu no Brasileiro e perder um clássico não vai ajudar nada a melhorar o clima no Laranjal. Então os caras virão com tudo, ainda mais se lembrarmos que o tricolor não vence o Vasco três partidas.

Já do nosso lado, ainda que estejamos numa posição melhor na classificação, precisamos voltar a vencer depois da injusta derrota da última rodada. E nada melhor para aumentar a moral de uma equipe que bater um grande rival. Mas seguimos com problemas: Don Ramón ainda não pode contar com Payet e Medel e o treinador ainda não anunciou se volta com o esquema com três zagueiros no clássico. Com uma atuação apagada contra o RB Bragantino, PH pode dar lugar ao João Victor, que formaria a zaga com Léo e Maicon. No meio e no ataque, devemos seguir com três volantes e  com Rossi fechando com a dupla DVD Pirata o trio ofensivo.

Com tudo isso, teremos uma partida complicada, como geralmente é todo clássico, mesmo sem desfalques importantes como teremos. Corremos grande risco de vermos novamente aquele monte de bolas alçadas à área pela falta de articulação do time. Mas pode dar certo, desde que nossos atacantes estejam mais inspirados e que não cometamos erros individuais primários (pra não chamar de falhas bisonhas) na defesa.

Campeonato Brasileiro 2024

Fluminense X Vasco

Fábio; Samuel Xavier, Felipe Melo, Manoel, Marcelo; André, Martinelli, Ganso; Arias, Marquinhos, Cano. Léo Jardim, Paulo Henrique (João Victor), Maicon, Léo, Lucas Piton; Sforza, Galdames, Mateus Carvalho, Rossi, Vegetti e David.
Técnico: Fernando Diniz. Técnico: Ramón Diaz.
Estádio: Arena Maracanã. Data: 20/04/2024. Horário: 16h. Arbitragem: Wilton Pereira Sampaio (FIFA). Assistentes: Bruno Boschilia (FIFA) e Leone Carvalho Rocha. VAR: Rodolpho Toski Marques (VAR-FIFA).
TV: o Canal Premiere transmite para assinantes de todo o Brasil.

Com outra desculpa, Vasco segue sem vencer o Nova Iguaçu

Herói de novo: como na Copa do Brasil, Piton evitou o pior no primeiro jogo da semifinal do Carioca
Herói de novo: como na Copa do Brasil, Piton evitou o pior no primeiro jogo da semifinal do Carioca (📸: Úrsula Nery | FERJ)

A premissa do post de ontem, antes da primeira partida das semifinais do Carioca, era a seguinte: o Nova Iguaçu foi o único time a nos vencer esse ano, mas era preciso levar em consideração que o Vasco jogou com um time reserva. Então, poderíamos esperar um cenário completamente diferente nesse segundo confronto entre as duas equipes.

Só que o cenário não foi tão diferente assim. Passamos um aperto tremendo, mesmo com os titulares – ou aqueles que Don Ramón escolheu serem titulares ontem – poderíamos muito bem ter perdido mais uma vez e, no fim das contas, podemos até agradecer pelo 1 a 1. Um resultado péssimo diante da nossa expectativa, mas que pelo menos nos deixa a uma vitória da final do Estadual.

Na coletiva pós-jogo, Don Ramón e justificou o desempenho decepcionante da sua equipe: tivemos uma partida muito desgastante três dias antes e nosso adversário apenas treinou durante a semana.  Sendo um fato incontestável, não há o que discutir. Um possível cansaço possa explicar desatenções, falta de pegada na marcação, entre outros problemas que o time apresentou ontem.

Pode até explicar. Mas será que justifica?

O ponto aqui é o seguinte….Por ter jogado com um time reserva, o Vasco tem uma desculpa para ter perdido o confronto na Taça Guanabara. Por estar com o time titular desgastado, o Vasco tem uma desculpa para o sofrimento que passou para apenas empatar no jogo de ida da semifinal.

Mas ao usar o cansaço dos seus jogadores para explicar o que vimos em campo, Ramón Diaz criou o seguinte cenário: como na partida da volta acontecerá o contrário (somos nós quem descansamos  e quem joga no meio da semana é o N. Iguaçu), o Vasco não terá qualquer desculpa para não vencer e se classificar para a final.

Nem o velho bordão “assim é o futebol” servirá para justificar qualquer placar que não a vitória no próximo domingo.

Mais uma vez não falarei das atuações individuais na partida – dar a deviida moral pro São Léo Jardim e pro salvador (de novo!) Piton até cabe – porque descobri, da pior forma possível, que simplesmente não posso mais ir aos estádios sem levar meus óculos. A vista deste que vos escreve está mais cansada que o time do Vasco ontem.

***

Falando só mais um pouco sobre o jogo, em um ponto concordo com nosso treinador: a gente poderia ter perdido, mas poderíamos igualmente ter vencido. Mesmo que se use as bolas na trave como critério pra avaliar uma superioridade do adversário, foram três pra eles e duas pra gente. Uma ou outra entrando, fosse para qual lado fosse, e tudo mudaria de figura.

MAAAAAAS….

Tenha jogado aquém do que todos esperavam ou, na real, que tenha jogado mal pra burro, não dá pra ignorar que a validação do que sofremos foi, sendo bem gente boa, pra lá de questionável.

Alterar uma decisão tomada pela arbitragem dentro de campo, tendo como base a linha traçada pelo VAR da D. Ferj – com a precisão de um octogenário com Parkinson em estágio avançado – é daquele tipo de situação que só acontece com….nem vou completar, porque vocês já sabem.

Aí, eu pergunto a vocês, leitores: quem aí achava que a chegada do VAR ao Carioca resolveria os problemas com as decisões “polêmicas” dos apitadores do Rio?

***

 

Em noite de apagão, Vasco exorciza a maldição da segunda fase da Copa do Brasil

Salvador: quando tudo parecia perdido, Piton empatou o jogo e levou a decisão da vaga para a disputa de pênaltiis
Salvador: quando tudo parecia perdido, Piton empatou o jogo e levou a decisão da vaga para a disputa de pênaltis (📸: Leandro Amorim | Vasco)

É muito provável que todo torcedor do Vasco tivesse o desejo que a partida de ontem contra o Água Santa tivesse terminado aos 20 minutos do primeiro tempo. Isso porque já estávamos com dois gols de vantagem desde os 15 minutos iniciais e também para não precisarmos passar por todo drama que veio depois disso, com o adversário passando a tomar conta do jogo, chegando a virar e só empatarmos o placar em 3 a 3 nos acréscimos, precisando ir pra disputa de pênaltis para garantir a vaga na próxima fase da Copa do Brasil (e exorcizar a “maldição da segunda fase“, que vinha acontecendo há algum tempo).

Mas, pessoalmente, nem acho que esses sejam os principais motivos pra torcida, se pudesse, encerrar o jogo antes da metade da primeira etapa. Pra mim, mais importante que tudo isso, é o fato de que antes de sofrer um apagão inexplicável, o time de Don Ramón jogou como há muito tempo não víamos o Vasco jogar. Com força e inteligência, sabendo a hora de atacar com velocidade e o momento para cadenciar o jogo. Trabalhando a bola com paciência até furar a retranca adversária e marcar (como no lance do gol do Vegetti).

Foi uma visão do Vasco que podemos ter. Um Vasco consciente e competitivo, que diferente dos outros anos, pode dar à torcida a esperança de conquistas. Mas esse é um Vasco “potencial“, ainda. E que, para se tornar real, precisa encontrar uma forma de evitar que a impressionante oscilação no desempenho durante as partidas não vire uma rotina.

Entrevistado na saída do campo, após o Vasco já ter garantido a classificação, Léo Jardim foi questionado sobre a irregularidade do time. O goleiro rebateu dizendo que preferia falar sobre a resiliência da equipe, que conseguiu superar as dificuldades e se classificar, mesmo tomando uma virada aos 44 minutos do segundo tempo.

Foi uma boa resposta, mas uma coisa não impede a outra. Ontem, fomos sim, resilientes. Mas só precisamos ser por conta da irregularidade que também tivemos. Ontem, a resiliência nos fez alcançar nossos objetivos. Mas nem sempre será assim e é por isso que evitar apagões como o de ontem é muito mais importante.

PS: convém lembrar que nas semifinais do Carioca, contra o Nova Iguaçu, um empate nos acréscimos não nos adiantará nada.

As atuações

Leo Jardim – um dos heróis da classificação, fez pelo menos três grandes defesas com a bola rolando e ainda pegou o primeiro pênalti do Água Santa.

João Victor – fez um bom primeiro tempo, inclusive ajudando a iniciar jogadas ofensivas. Foi sacado na etapa final, quando Don Ramón abandonou o esquema com três zagueiros. Conseguiu ser expulso ao criar um tumulto com Neílson quando já tinha sido substituído pelo Matheus Carvalho, que dessa vez não conseguiu dar a segurança de sempre ao meio de campo.

Medel – uma noite infeliz do xerifão. Mesmo jogando com a disposição de sempre e ganhando alguns confrontos diretos, não conseguiu tranquilizar a zaga, que de um modo geral foi bem insegura.

Leo – tentou ajudar  na construção de jogadas, mas segue parecendo precisar de um exame de vista, dada a quantidade enorme de passes que erra. Poderia ter feito o gol da vitória, mas apenas raspou uma bola cruzada por Payet no fim da partida.

Paulo Henrique – acabou aparecendo mais e sendo mais efetivo no apoio que o Piton. Acertou um belo cruzamento para o gol do Vegetti.

Zé Gabriel – em dia de Zé Delivery, perdeu uma bola na intermediária que só não terminou em gol por total sorte do Léo Jardim. No primeiro gol do adversário, estava marcando o vácuo. Sforza entrou em seu lugar e compensou sua discreta participação no jogo se prontificando a cobrar um dos pênaltis e convertendo.

Galdames – segue mostrando competência quando vai ao ataque: marcou mais um gol, mostrando oportunismo e bom posicionamento. Mas ontem precisaria ter como companhia alguém mais eficiente na marcação que o Zé. Rossi o substituiu e só apareceu mesmo quando tomou um amarelo sem que a bola estivesse rolando.

Payet – mesmo em uma das raras atuações nas quais mais erra que acerta, participou de dois dois gols vascaínos, o primeiro e o terceiro.

Lucas Piton – não conseguiu ser efetivo no ataque e ainda vacilou feio no lance do terceiro gol. Mas se redimiu completamente ao empatar a partida já nos acréscimos e convertendo sua cobrança de pênalti.

Adson – vinha fazendo um bom jogo, com intensa movimentação e até participou (como praticamente todo time) da jogada do segundo gol. Mas ficar olhando o Neílton passar a sua frente sem fazer nada além de levantar o braço pedindo um impedimento inexistente no lance do primeiro gol adversário queimou sua atuação. David entrou em seu lugar na reta final do jogo e teve uma boa chance, em chute que obrigou o goleiro adversário a fazer grande defesa.

Vegetti – deu trabalho à zaga adversária o tempo todo e, pra variar, deixou o dele. Garantiu a classificação convertendo a última cobrança na disputa de pênaltis.

Em empate parelho com o Fla, Vasco se complica ainda mais no Carioca

Salvador: Léo Jardim pega o pênalti cobrado por Gabriel Barbosa e garante um mínimo de justiça no clássico
Salvador: Léo Jardim pega o pênalti cobrado por Gabriel Barbosa e garante um mínimo de justiça no clássico (📸: Leandro Amorim | Vasco)

Eu bem poderia repetir o título da resenha sobre o jogo contra o Bangu neste post sobre o empate no clássico de ontem: o resultado da partida contra o Flamengo foi bem pior que a atuação do Vasco em si.

Isso porque, diz o senso comum – ou a imprensa esportiva e parte mais negativa da nossa torcida, como queiram – um confronto entre o mais querido da mídia contra o Vasco é sempre prenúncio de um massacre. O abismo entre o material humano dos dois elencos, principal justificativa para a eterna expectativa de baile rubro-negro, é evidente e inegável.

Só que nem sempre isso faz tanta diferença. Como ontem: o Vasco até que levou um tempo para se adequar à partida, se deixou pressionar – mesmo sem correr muitos riscos reais – por uns 20 minutos, mas depois disso, conseguiu desenvolver a proposta de jogo possível para um confronto com essas características.

Exagero dizer que fizemos um jogo parelho? Talvez. Mas fomos competitivos e eficientes. Tanto que ao final da primeira etapa, a chance mais clara de gol foi nossa, com o zagueiro adversário precisando operar um milagre para evitar que o Pirata abrisse o placar.

No segundo tempo a história se repetiu: Vasco acuado demais no início, conseguindo equilibrar com o passar do tempo. Ainda que o time de Don Rámon fosse “mono-ofensivo” – quase todas as jogadas efetivas vieram pela esquerda, com Payet e Piton – conseguíamos levar algum perigo ao adversário. Inclusive a chance mais clara de todo jogo, dessa vez efetivamente desperdiçada pelo Vegetti.

O jogo ainda poderia ter terminado com uma derrota, injusta pelo que rolou em campo, depois da penalidade cometida pelo João Vitor. Mas Léo Jardim garantiu a igualdade no placar defendendo a cobrança e fazendo com que o clássico terminasse com justiça.

O baile rubro-negro nem de longe aconteceu, mas olhando sob a ótica do campeonato, o resultado foi bem ruim (até porque poderíamos até ter vencido). Seguimos fora da zona de classificação para as semifinais e, quando todos os times estiverem com o mesmo número de jogos, podemos não apenas ficar mais distantes do quarto lugar em pontos como também cair duas posições na tabela. O Vasco mostrar competitividade contra um dos clubes mais ricos do país nos dá algum alívio, mas não melhorou nada nossa situação no Estadual. Pelo contrário.

As atuações

Léo Jardim – nem vinha tendo tanto trabalho até se tornar o herói do time no finzinho do jogo defendendo um pênalti e garantindo o empate.

João Victor – vinha sendo um dos mais participativos na linha de três da zaga, inclusive subindo ao campo de ataque e tentando ajudar a iniciar jogadas. Mas o pênalti que cometeu poderia ter comprometido o trabalho de todo o time.

Medel – “xerifou” com a disposição de sempre, não dando vida fácil ao ataque rubro-negro. Saiu no segundo tempo dando lugar ao Rojas, que renovou as energias da zaga e foi eficiente evitando algumas jogadas aéreas do adversário.

Léo – foi quem menos se destacou na zaga, mas não chegou a comprometer. Jogou com seriedade.

Paulo Henrique – tentou ajudar no apoio, chegando a fazer algumas boas jogadas de linha de fundo. Também foi quem mais roubou bolas pelo Vasco, mas deixou alguns espaços na sua lateral.

Zé Gabriel – importante na destruição de jogadas do Fla, mas apenas isso.

Jair – seguindo a “maldição do segundo homem“, como o Paulinho na partida contra o Bangu, também saiu contundido logo no início da partida. Mateus Carvalho o substituiu e mesmo mostrando algum nervosismo, mostrou que pode muito bem disputar a zaga com o Zé: foi bem na marcação e ainda mostrou um pouco mais de habilidade para iniciar as jogadas.

Payet – a diferença técnica do francês para o resto do time é tão gritante que seu protagonismo é inevitável: praticamente todas as jogadas do time passam em algum momento pelos seus pés. Ontem, pecou no timing para os arremates.

Lucas Piton –  melhor arma ofensiva do time com seus avanços sempre perigosos pela lateral, só não saiu do jogo com uma assistência por um milagre realizado pelo zagueiro urubulino.

David – mais uma atuação na qual só se pode elogiar o esforço. Produziu tão pouco que o Adson, que o substituiu na parte final do jogo, apareceu mais e já chega com força na briga pela posição no ataque.

Vegetti – segue no seu jejum de gols e dessa vez nem pode reclamar que não foi acionado. Em um clássico como o de ontem, um centroavante não pode perder duas chances claríssimas de gol como perdeu o Pirata. A primeira, até se perdoa, já que o mérito foi da zaga adversária; já o segundo foi um clássico “gol feito” perdido.

Vasco foi tão mal contra o Nova Iguaçu que parece ficção

Homenagem ao Paulinho na entrada do time foi a única coisa bonita que o Vasco fez em campo
Homenagem ao Paulinho na entrada do time foi a única coisa bonita que o Vasco fez em campo na derrota para o Nova Iguaçu (📸: Leandro Amorim | Vasco)

Teorias que podem explicar o tenebroso desempenho do Vasco na derrota para o Nova Iguaçu, ontem, pelo Estadual:

1)  Don Ramón e Emiliano pensam em estratégias para fazer a 777 levar a sério a necessidade urgente de reforços para o elenco. Vendo que argumentar não tem adiantado, a dupla portenha resolve radicalizar. “¿Y si jugáramos contra el pequeño equipo de mejor campaña de Carioca, el mismo equipo que empezó contra Madureira?“, sugere o ousado auxiliar. Don Ramón reluta, mas é convencido pelo filho, que argumenta: como é impossível aquele time passar 90 minutos sem fazer as pixotadas habituais, ficará claro que temos, com muito boa vontade, apenas um time titular e que os atuais reservas não têm condições de fazer graça nem em uma Taça Guanabara. Ramón Díaz acaba concordando mas, “pero si, pero no“, é melhor prever a entrada de um ou outro titular no segundo tempo. Emiliano aceita a ideia. Afinal de contas, tendo apenas o Léo Jardim – e, vá lá, o Praxedes – como titulares em campo, os 45 minutos iniciais serão o bastante para convencer os homens da grana que se não chegarem reforços, 2024 vai desandar.

2) Rodada anterior ao clássico de maior rivalidade para a torcida. Ainda que o Vasco tenha subido (ligeiramente) de patamar, a discrepância entre os elencos cruzmaltino e rubro-negro é evidente, o que torna qualquer arma para superar o adversário é importante. Então, jogadores e comissão técnica decidem usar o “protocolo salto alto“: o time jogaria propositalmente mal antes do clássico para que o  Flamengo nos considere inofensivos e tenham uma atuação displicente, entrando em campo achando que podem vencer a partida no momento que quiserem. Essa atitude certamente facilitará as coisas para o Vasco.

Fanfics a parte, sabemos que nada do que aconteceu ontem foi intencional. Nosso elenco tem muitas deficiências e quando todas estão juntas em campo, as coisas ficam complicadas. Mesmo em uma competição do nível do Estadual. Isso já tinha ficado claro antes. Foi reforçado ontem.

A verdade é que sim, a 777 precisa dar um jeito de trazer reforços em um número considerável. E sim, não dá pra comparar nosso elenco com o elenco da urubulândia. E como nada disso dá pra resolver até o domingo, as chances do Vasco se complicar na Taça Guanabara já na próxima rodada são grandes.

Por sorte, no clássico poderemos contar com o time titular e não apenas com nossos, sendo gentil, “esforçados” suplentes. Se isso será o bastante, é a dúvida que fica.

As atuações

Léo Jardim – sem culpa nos gols e sem trabalho no jogo.

Paulo Henrique – parece ser uma espécie de “camaleão esportivo“:  jogando com times melhores, sobe de produção. Jogando com os reservas, teve uma atuação bem abaixo do que já mostrou. No lance do segundo gol, foi de primeira no início da jogada como qualquer amador sabe que não se deve fazer.

Maicon – a pixotada terrível no lance do primeiro gol resumem sua atuação, que aliás, se limitou ao primeiro tempo. João Victor o substituiu no intervalo e passou boa parte do jogo tentando ajudar a iniciar as jogadas. Mas no lance do segundo gol, não cortou um passe que parecia estar ao seu alcance.

Léo – um monte de passes errados e uma dificuldade tremenda com as trocas de passes do ataque adversário.

Julião – não conseguiu ser eficiente nem defendendo, nem no apoio. Saiu para a entrada do Piton, que se tornou a principal válvula de escape para nosso ataque. Acertou alguns bons cruzamentos, não aproveitados pelo nosso ataque.

Zé Gabriel – sobrecarregado pelo esquema do time, teve muitos problemas no combate.

Praxedes – uma atuação daquelas pra esquecer (e, se dermos sorte, que faça ver à 777 que não dá pra contar com o rapaz para substituir o Paulinho).

Serginho – nada fez de relevante na frente e ainda perdeu a bola que originou o primeiro gol novaiguaçuano. Erick Marcus o substituiu e não conseguiu ser muito melhor.

Rossi – apanhou muito, produziu pouco. Vegetti o substituiu e segue em jejum na temporada. Ontem, teve duas boas chances e não as aproveitou.

David –  na única oportunidade que teve, após cruzamento do Rossi, não chegou na bola. Deu lugar ao Payet, que deu outra dinâmica ao time e construiu suas melhores – únicas? – jogadas. Na ânsia por mostrar serviço, se precipitou em alguns lances.

Rayan – pouco acionado. E quando foi, desperdiçou as chances que teve.

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Pelo segundo jogo seguido, um árbitro é afastado da competição após cometer erros bizarros com o apito. Ontem, o Sr. João Marcos Gonçalves Fernandes deixou de expulsar um jogador do Nova Iguaçu após entrada criminosa no Rossi (se fosse seguido o critério do jogo contra o Bangu, o sujeito seria banido do esporte).

Se estivéssemos tão bem na bola como temos sido em eliminar juizes do Carioca, seríamos líderes com folga. O problema é que, nesse caso, o Vasco é sempre a vítima.

Resultado ruim, jogo nem tanto

Praxedes comemora seu gol: mesmo muito superior em campo e estando duas vezes a frente no placar, Vasco não conseguiu vencer o Bangu
Praxedes comemora seu gol: mesmo muito superior em campo e estando duas vezes a frente no placar, Vasco não conseguiu vencer o Bangu (📸: Leandro Amorim | Vasco)

Quando uma equipe de futebol tem um dos seus jogadores expulso antes de uma partida ter cinco minutos de bola rolando, é impossível não levar esse fato em consideração ao fazer qualquer tipo de resenha sobre o jogo.

Por isso é complicado olhar apenas para o placar final da partida entre Vasco e Bangu, no Mané Garrincha e cravar que o 2 a 2 no Mané Garrincha foi um “vexame“, como já  vi sendo dito pelos polemistas profissionais da internet.

Uma expulsão tão precoce acaba com o planejamento de qualquer time. Seu técnico precisa repensar a formação da equipe, como recompor o setor que perdeu uma peça e dar um jeito de manter o lado emocional do grupo sereno quando o cartão vermelho é injustificado (como foi o caso da absurda expulsão do Jair, que sequer cometeu falta no lance).

Na humilde opinião deste que vos fala, tudo isso torna inevitável relativizarmos o fato de, pela primeira vez no Carioca, começarmos um jogo com um time quase todo titular e termos como oponente um dos últimos colocados da Taça Guanabara.

Digo isso porque, se o Bangu não viu a bola nos pouco mais de três minutos nos quais o Vasco esteve em igualdade numérica, o domínio da partida continuou quando passamos a ter um jogador a menos. O Bangu continuou sem ver a bola e o Vasco seguiu pressionando o adversário por todo o primeiro tempo, sem sofrer qualquer risco real. E isso, mesmo quando perdemos o Paulinho, outra peça importante no esquema de Don Ramón, também na primeira etapa.

O técnico vascaíno mexeu no time, seu desenho para o jogo foi completamente destruído pelas circunstâncias e, ainda assim, o Vasco continuou soberano na partida. Tanto que o time voltou até melhor para a segunda etapa, abriu o placar com o Praxedes e seguiu criando – e desperdiçando – chances de gol.

Mas com o avançar da partida, jogar com um a menos inevitavelmente cobraria seu preço. O Vasco cansou e o Bangu teve alguns espaços a mais. Ainda assim, o alvirrubro só  conseguiu o empate por conta do imponderável: um frangaço do Léo Jardim.

E como falhas individuais não podem ser previstas, não podem também entrar na conta da atuação coletiva do time. A falha do nosso goleiro e pelo menos dois gols feitos que deixamos de fazer (justo dos centroavantes do time, Vegetti e Rayan) não deveriam influenciar a impressão que o time passou no jogo. Assim como o pênalti cometido pelo Medel nos minutos finais, completamente incompatível com a experiência do zagueiro.

No fim das contas, a decepção com o empate é inevitável. Até pela forma como aconteceu, evitando o que seria uma vitória apoteótica com o golaço do Payet já nos acréscimos. Mas a frustração não deve – ou não deveria – deixar a torcida desesperançada com o time, que ainda está se ajustando e que, inegável, foi muito superior ao adversário mesmo tendo sido brutalmente prejudicado pela arbitragem nos minutos iniciais do jogo.

Mas é importante frisar: mesmo que a torcida leve em consideração as circunstâncias do empate de ontem e dê uma aliviada em relação ao empate, na quarta teremos um adversário bem mais complicado que o Bangu. E, mesmo que não tenhamos uma arbitragem desastrosa como a de ontem, se continuarmos chances claras de gol e sofrendo gols por falhas individuais, podemos muito bem nos complicar.

As atuações

Léo Jardim – até fez uma grande defesa no segundo tempo, mas nada que compensasse o frangaço que levou no primeiro gol. A chance de se redimir, defendendo o pênalti a favor do Bangu, não foi aproveitada.

Robert Rojas – para um lateral que também atua no miolo da zaga, sua participação no apoio foi surpreendente pela frequência e, mais importante, sem deixar espaços pelo seu lado de campo. Puma Rodríguez entrou em seu lugar no intervalo e, se a intenção era dar maior peso ofensivo ao lado direito do time, a mudança não chegou a surtir efeito.

João Victor – errou alguns passes inaceitáveis e mostrou um nervosismo exagerado após a expulsão do Jair. Mas jogou com seriedade e se saiu bem, tanto nas antecipações como nos combates diretos.

Medel -comprometeu o que seria mais uma boa atuação cometendo um pênalti desnecessário nos minutos finais da partida.

Lucas Piton – praticamente um ala, foi uma das principais armas ofensivas do time, mais notadamente no segundo tempo. Fez a assistência para o Praxedes marcar seu gol.

Jair –  com 3 minutos em campo foi expulso em um lance no qual nem falta cometeu.

Paulinho – ainda estava se adaptando às novas funções após a expulsão do Jair quando sentiu e precisou sair. Deu lugar ao Praxedes, que se saiu melhor jogando mais recuado do que tendo a obrigação de armar o time . Marcou seu gol aproveitando o espaço que lhe deram por estar jogando mais atrás. Acabou sendo sacrificado quando o Bangu empatou, dando lugar ao Rossi, que teoricamente deixaria o time mais ofensivo. Não chegou a justificar sua entrada no jogo.

Payet – comandou o time do meio pra frente, criando jogadas, finalizando, dando passes, cobrando escanteios e o que mais fosse necessário. Como não poderia deixar de ser, teve participação nos dois gols do time: no primeiro, iniciando a jogada e ele próprio marcando o segundo.

David – vinha ajudando o time a pressionar o adversário no campo de ataque até ser o escolhido para dar lugar ao Zé Gabriel, que entrou para recompor o meio após a expulsão do Jair. Sem incorporar o “delivery“, o Zé teve uma atuação na média, entregando muito mais transpiração que inspiração.

Erick Marcus – começar a partida mostrou que o garoto está com alguma moral com Don Ramón. Mas com o time tendo um jogador a menos, precisou dar mais atenção à marcação, o que diminuiu sua efetividade no ataque. Rayan entrou em seu lugar no intervalo e acabou disputando espaço com o Pirata na área. Teve poucas chances de fazer algo, mas perdeu uma chance clara no último lance do jogo.

Vegetti – mostrou algum nervosismo durante o jogo, sabe-se lá se pela arbitragem, pela falta de bolas ou pela renovação de contrato não resolvida. Mas dessa vez, nem pode reclamar tanto: mesmo sem tão acionado, teve oportunidades e não as converteu. Cabeceou uma bola no travessão e isolou outra quando estava apenas ele o gol. No fim, colocou o Rayan na cara do gol.

 

Vasco arranca empate com o Furacão e mantém série invicta

Tão importante quanto segurar o ímpeto do Furacão foi Léo Jardim ter se segurado para próximo jogo, contra o Corinthians
Tão importante quanto segurar o ímpeto do Furacão foi Léo Jardim ter se segurado para próximo jogo, contra o Corinthians (📸: Leandro Amorim | Vasco)

Nas 18 partidas que o Vasco teve como visitante neste Brasileirão, o time só não sofreu gols em três: nas vitórias sobre Cuiabá e América-MG e na de ontem, no empate sem gols contra o Athletico.

Isso já seria o bastante para valorizarmos o pontinho conquistado em Curitiba. Mas o jogo em si também evidencia a importância do resultado. O esquema com três zagueiros enfraqueceu nosso meio de campo e permitimos que o Furacão passasse boa parte do jogo nos pressionando. Ainda que Léo Jardim nem tenha tido tanto trabalho assim (apesar de ter realizado pelo menos um milagre no jogo), o Athletico chegou muitas vezes com perigo e, tivesse uma pontaria melhor, teria nos causado ainda mais problemas.

Ofensivamente o esquema também não ajudou. Com Paulinho em uma noite apagada e PH pouco participativo no apoio, apesar dos três zagueiros, tínhamos poucas opções para explorar os contra-ataques. E, como o próprio Don Ramón sinalizou na sua coletiva,  ainda faltou precisão nos poucos contragolpes que tivemos. Mesmo assim, tivemos algumas chances e poderíamos até ter tido uma sorte melhor na partida.

Obviamente uma vitória seria melhor, mas o pontinho conquistado serviu para nos garantir duas posições momentâneas e a certeza de terminar a rodada fora do Z4. Um empate em uma partida complicada e manter a sequência sem derrotas também dá mais uma moral para o time nessa reta final de campeonato. Ou seja, mesmo não nos garantindo um alivio maior, até que podemos nos dar por satisfeitos com o resultado na Ligga Arena.

As atuações:

Léo Jardim – apesar do Furacão ter rondado nossa área quase todo o jogo, não chegou a ter tanto trabalho. E quando exigido, se saiu bem: fez pelo menos duas grandes defesas, uma delas, um dos seus milagres.

Medel – seguro como sempre, melhorou a saída de bola do time quando inverteu sua posição com o Maicon. Saiu com dores e preocupa. Robson entrou em seu lugar e, enquanto eu ainda lamentava sua entrada em campo, quase marcou um gol de cabeça. Tomou um amarelo inexplicável do Daronco e está suspenso para a próxima partida.

Maicon – começando pela direita, quase entregou a mariola no começo do jogo numa saída errada. Deslocado pro centro, se saiu bem e foi importante principalmente cortando bolas levantadas na nossa área. Foi outro que não escapou dos amarelos do Daronco e não joga contra os gambás.

Léo – jogou com tranquilidade e não se complicou protegendo o lado esquerdo da zaga. Também foi alvo da mão nervosa do Daronco e está suspenso.

Paulo Henrique – firme defensivamente, poderia ter tido maior participação ofensiva em um esquema com três zagueiros. Acabou dando lugar ao Puma, que até apareceu mais no apoio, mas não chegou a se destacar.

Zé Gabriel – teve muito trabalho com os meias adversários e ainda baixou o Zé Delivery, entregando uma bola que poderia terminar em gol para o Athletico.

Paulinho – apenas mediano no combate, foi uma nulidade na articulação. Praxedes o substituiu e pelo menos apareceu na frente para ajudar no ataque, em um dos lances, quase marcando o gol que poderia nos dar a vitória.

Marlon Gomes – jogou com muita intensidade, mas acabou sendo mais útil na marcação – foi o maior ladrão de bolas do jogo – que na criação. Payet entrou em seu lugar quase no fim do jogo e não teve muita chance para aparecer.

Lucas Piton – aproveitou mais a liberdade oferecida pelo esquema e apareceu com perigo no apoio. Acertou dois cruzamentos que renderam boas chances de gol para o time.

Gabriel Pec – tentou explorar os contragolpes em velocidade e quase marcou um belo gol na etapa final, obrigando o goleiro athleticano a fazer uma grande defesa. Saiu no fim para a entrada do Mateus Carvalho, que  não teve tempo para aparecer.

Vegetti – pouco acionado, mas ainda teve duas oportunidades para marcar de cabeça.

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E lá vamos nós, mais uma vez, falar da atuação do Sr. Anderson Daronco em uma partida do Vasco. Nem comentarei os amarelos, distribuídos profusa e precisamente para nossos jogadores pendurados. Isso estava na cara que ia acontecer.

O problema é que as daroncadas não foram apenas essa: um festival de faltas não marcadas, inversões de falta, aplicações exóticas de vantagens…aqueles errinhos que, ao final do jogo, nunca contam como “influenciar o resultado“, mas que vão levando o time prejudicado a se irritar. O que, obviamente, atrapalha seu desempenho.

O Vasco ainda tem dois jogos sem a arbitragem definida pela CBF (a partida contra o Corinthians terá Sávio Pereira Sampaio como juiz). Seria bom que o Sr. Daronco não fosse o responsável pelo apito em nenhuma delas.

 

Vasco precisa devolver a quebra de escrita contra o Furacão

Dilema no gol: pendurado, Léo Jardim não pode levar um amarelo no jogo de hoje, contra o Furacão
Dilema no gol: pendurado, Léo Jardim não pode levar um amarelo no jogo de hoje, contra o Furacão (📸: Leandro Amorim | Vasco)

O histórico – nem tão – recente de confrontos do Vasco com o Furacão não é o que podemos chamar de tranquilo. Há séculos sem ganhar dos caras no Paraná e com uma goleada vergonhosa na bagagem, os jogos contra o Athletico-PR são ainda mais complicados nas retas finais de Brasileirão, ainda mais na situação de hoje (nós, na briga pra permanecer na elite; eles, ainda disputando algo na competição): já tiramos um título quase certo dos caras e eles já jogaram a pá de cal em um dos nossos rebaixamentos, com direito a briga sangrenta na arquibancada.

A partida de hoje na tal “Ligga Arena, infelizmente, repete o cenário. Enquanto os donos da casa ainda precisam de pontos para se garantir na Libertadores do ano que vem, nós estamos todos com as calculadoras na mão, fazendo contas para disputar a Série A em 2024. No primeiro turno, já sob o comando de Don Ramón, o Athletico quebrou o tabu de nunca ter nos vencido em São Januário. Esta noite o Vasco tem a chance de devolver a quebra em uma escrita: não vencemos o Furacão em seus domínios há longos 16 anos.

O retrato do momento mostra um Vasco melhor, apesar de tudo. Enquanto mantemos uma invencibilidade de 5 partidas, o Athletico está o mesmo número de jogos sem conseguir uma vitória. Mas sabemos que o futebol não segue lógicas momentâneas. Uma hora, invencibilidades e fases ruins acabam. A missão de Ramón Diaz e seus comandados é fazer com que a nossa boa fase continue.

O problema é que, no contexto do campeonato, um empate nos serve pouco. Um ponto pode nos fazer subir uma posição na tabela (ou até duas, mas não dá pra contar muito com uma vitória do Botafogo sobre o Santos), mas não nos permitirá aumentar a vantagem para o Z4. Em caso de vitória do Cruzeiro sobre o Goiás, por exemplo, nos deixará a apenas um ponto da 17ª colocação. Sendo assim, vencer o Furacão na sua casa é o único objetivo que o Vasco pode ter hoje.

E para conseguir os três pontos, Don Ramón precisará mexer na sua equipe. Com a expulsão do Rossi na partida contra o Cruzeiro, Payet e Marlon Gomes disputam a vaga. Entre quem entrar, talvez seja mais interessante abandonarmos o esquema com três atacantes (no qual o Francês não consegue desempenhar todas as funções táticas e ainda se sacrifica) e ter mais um homem no meio. Marlon ainda tem chance de entrar mesmo que o Camisa 10 ganhe a vaga do Rossi, aí, no lugar do Praxedes (que, pelo que vem jogando, poderia muito bem pegar um banco). A outra alteração no time deve ser o retorno do PH à lateral, o que é positivo, já que provavelmente precisaremos de maior eficiência defensiva hoje do que o Puma pode oferecer.

Vencer hoje é o ideal, porque nos faria ganhar no mínimo duas posições na tabela – com alguma sorte, até quatro (!) – e aumentaria nossa distância do Z4. Um empate, como já disse, não seria o melhor dos mundos, nos manteria no bolo dos desesperados e numa situação pior que a da rodada passada. Ainda assim, seria um pontinho fora de casa, o que não podemos desprezar de forma alguma.

Já uma derrota…bom, é melhor nem pensar nessa hipótese.

CAMPEONATO BRASILEIRO 2023
ATLHETICO X VASCO

Local: Ligga Arena.
Horário: 19h30 (de Brasília).
Árbitro: Anderson Daronco (RS-Fifa).
Assistentes: Rafael da Silva Alves (RS-Fifa) e Maurício Coelho Silva Penna (RS).
VAR: Wagner Reway (PB-VAR-Fifa).

ATHLETICO-PR: Bento, Cacá, Thiago Heleno e Esquivel; Cuello, Erick, Fernandinho e Canobbio; Zapelli, Vitor Bueno e Willian Bigode
Técnico: Wesley Carvalho.

VASCO: Léo Jardim, Paulo Henrique, Maicon, Medel, Lucas Piton; Zé Gabriel, Praxedes (Marlon Gomes), Paulinho, Marlon Gomes (Payet), Gabriel Pec e Vegetti.
Técnico: Ramón Díaz.

Transmissão: o  canal TNT transmite para todo o Brasil (exceto PR). A Cazé TV transmite para assinantes no YouTube. O canal Casemito transmite no Twitch (para cadastrados e assinantes Amazon Prime).

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Chatão isso de ficar falando de arbitragem antes mesmo da partida começar, mas é impossível não ficar preocupado quando o apitador do jogo de hoje será o Sr. Anderson Daronco.

Com seu histórico de arbitragens “colaborativas” para o Vasco, é impossível não lembrar que o Léo Jardim está pendurado. E, por uma infeliz coincidência do destino, se ele estiver suspenso na próxima rodada, o jovem Halls será o goleiro titular: Ivan tem contrato com o Corinthians, nosso próximo adversário. Ou seja, ele não poderá jogar contra os gambás.

Então, para não corrermos o risco de disputar um confronto direto com  nosso  terceiro – e inexperiente – goleiro, Jardim deverá ser bastante comedido com possíveis reclamações e ceras. É certo que a mão do Daronco estará coçando para dar um amarelo para o titular do nosso gol.